framboesas



Voltaram a encontrar-se no dia mais quente do Verão, onde tinham passado os melhores momentos das suas vidas sentados no areal duma praia que já podiam considerar sua.

Ela lembrava-se dele muitas vezes, e nem a distância destruía as suas memorias. Recordava a sua expressão de menino tímido e adorável, os seus enormes olhos castanhos que se enchiam de brilho sempre que olhava para ela e o cabelo rebelde que passava horas a pentear. Apesar de não suscitar o interesse das raparigas enquanto jovem, agora pareciam não o largar e por isso ela sentiu uma ponta de ciúmes.

Ele reconhecera-a de imediato, relembrando aqueles olhos azuis pelos quais se apaixonara na juventude. Relembrou a sua pele clara e macia que outrora o fazia vibrar e o seu cabelo preto e sedoso, cujo cheiro lhe fazia lembrar frutos silvestres. Quando ela se fora embora, deu por si a desenroscar frascos de champô no supermercado à procura do seu cheiro, mas nenhum se parecia assemelhar ao que o realmente fizera feliz.

*

Agora estavam ali, frente a frente, tantos anos depois, e o mundo pareceu parar. Tudo o que tinham imaginado dizer neste momento ofuscou e eles não largavam os olhos um do outro.

Ela achou que ele estava mais belo que nunca, melhor que as suas recordações e expectativas e deu por si a pensar se ele continuaria o rapaz engraçado, simpático, amoroso e um pouco mimado que a fizera perder a cabeça.

Ele morria por saber se os lábios a que roubara o primeiro beijo ainda tinham o mesmo sabor e quase se sentiu superficial ao pensar no belo corpo que abraçara tempos antes, e no que se tinha tornado. Para ele, ela era perfeita. Não era só peça sua beleza, nem pelo seu sentido se humor um pouco irónico, nem pela sua vontade incontrolável de ajudar o mundo. Era tudo isso e a sua ingenuidade, a sua teimosia e orgulho e principalmente a sua capacidade de o fazer feliz como nunca ninguém fora capaz de fazer.

Beijou-a e quando finalmente ganhou coragem para acabar com aquele parêntesis doce que melhorara significativamente o seu dia, deixou escapar: -Framboesa. O meu sabor favorito.

4 comentários:

  1. Foi muito bom "saborear" este texto tão doce :)
    É uma história de amor muito bonita! Parabéns!
    Beijinho

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  2. adorei o texto ^^
    blog com sabor a framboesa (:

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  3. Seu texto me fez lembrar o poema "Canteiros" de cecília Meireles, musicado por Fagner.

    Link p/ ouvir a música:
    http://www.youtube.com/watchv=yxWbSk7yGO0&feature=player_embedded

    Grato pela visita e comentário no meu blog.
    Um abraço da Bahia.

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  4. Corrigindo link do post anterior:
    http://www.youtube.com/watch?v=pHUhewEYkbU&feature=related

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