relva



Ele magoou-a como ela não sabia ser possível. Amou-o e deu-lhe tudo o que podia e nao podia, entregou-se a ele de uma forma quase absurda e ele atraiçoou-a da pior maneira possível. 
De certa forma, achou-se estúpida e questionou-se se a culpa não poderia ser dela. Aumentou o ritmo do passo numa tentativa de se abstrair desse pensamento, mas sem sucesso.
O seu primeiro impulso fora fugir e sentira-se mal com ela própria por não encarar os problemas como sempre fizera, mas a verdade e que sair daquela cidade onde todos os recantos lhe traziam memorias daquele que lhe acabara de arruinar a vida, era uma necessidade.
Ao fazer as malas tentava convencer-se de que quem tinha perdido era ele, todavia não acreditava realmente nisso e por momentos sentiu vontade de lhe ligar, dizer-lhe tudo o que não dissera quando foi tempo. Dobrou outro par de jeans e engoliu em seco, tentando mentalizar-se de que tinha de saber perder, ouvir sem responder e guardar para si o que mais queria lhe dizer.
Desceu as casas esforçando-se por não esquecer nenhum dos ideias e saiu à rua ainda com os olhos em lágrimas. Limpou-os rapidamente com a mão, estava decidida a ser feliz e isso implicava não duvidar do que estava a fazer, sem mostrar sinais de fraquezas.
Chamou um táxi e sentiu o seu coração a bater confusamente. Tentou esquecer as memorias, a saudade e essencialmente a vontade de voltar para ele. Nunca tinha viajado sozinha, mas este era o momento para se preparar para um futuro que sabia ser incerto.
Indicou ao motorista o aeroporto, tentando acreditar que era esse o caminho ideal, tentando acreditar que a sua meta ía chegar mais rápido do que pensava. O tempo só podia estar do seu lado.
A imagem dele vinha-lhe varias vezes à cabeça, como a pior das assombrações, e ela convencia-se arduamente que a sua vontade era o mais forte e que o destino se encarregaria de acalmar a sua dor, transformando-a numa recordação delicada do passado. 
Pediu o bilhete para o avião que partiria naquele momento e dirigiu-se rapidamente para o seu lugar. Pela primeira vez durante muito tempo era ela quem comandava a sua vida e sentiu-se orgulhosa. 
Partiu sem olhar para trás, esforçando-se por apagar a memoria, receosa de a perder definitivamente. Partiu para outro mundo numa altura em que só lhe apetecia permanecer no mundo dele.Olhava para outros casais, felizes e melodiosos e isso deu-lhe vómitos. Concentrou-se nas coisas positivas: o seu momento ia chegar e ainda tinha esperanças de encontrar a pessoa certa, alguém que lhe estivesse disposta a dar tudo, tal como ela fizera com ele.
Apesar de não admitir, tinha medo de ser traída novamente, isso era algo que não podia suportar.
Desembarcou e chegou ao seu destino, porem achou por bem manter o telemóvel desligado. Longe do seu mundo, que também era o dele, sentia-se mais confiante, não cairia em tentações.
Alugou uma casa que tinha uma pequena lagoa no campo e adorou a sensação da relva a roçar-lhe nos pés. Nunca tinha saído do seu país industrial e achou que aquela sensação fresca e verde era maravilhosa, a melhor que poderia sentir pelo menos por agora.
Estava a nadar quando chegou à conclusão que talvez andasse demasiado perdida em busca do amor ideal, preocupada com o que podia receber.
Pela primeira vez desde que ele a tivera ferido, ela chorou. Já tinham passado demasiadas semanas e ela queria voltar. Não por ele, mas por si mesma. Naquele tempo todo que estivera isolada decidiu que no dar é que está o ganho, mesmo que implicasse a mesma dor e sofrimento. Aprendeu que era preferível sentir dor a não sentir nada. E só lhe doeu até sentir que da desilusão proveio uma lição. Doeu-lhe até estar certa que o caminho se faz a andar e que ela não podia ter feito as coisas de outra maneira. Doeu-lhe ate se conformar de tudo, e, um dia, esqueceu.

5 comentários:

  1. Pois é, dizem que o tempo cura tudo :)
    Parece muito dificil esquecer uma dor assim, mas talvez seja o melhor! Guardar ressentimentos não serve de nada, só nos faz mal.

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  2. Muito obrigada :$

    Adorei o teu blog, gostei muito mesmo dos teus textos e sabes que mais ? Vou vir aqui cuscar o teu diário sempre que poder :) vou seguir-te :p

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  3. É sim, é mesmo muito bom ter amigas assim ^^

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